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Letramento em IA: o que é e por que sua empresa precisa desenvolver essa competência?

Francine Ribeiro

Francine Ribeiro


O Brasil se destaca como um dos países que mais investem em aprendizado de Inteligência Artificial. Segundo dados da KPMG, 47% das empresas brasileiras oferecem treinamento em IA, superando nações como Alemanha (20%) e Estados Unidos (28%).

Ainda assim, por trás desses números animadores, surge uma questão preocupante: a adoção rápida das soluções de IA nem sempre é acompanhada de um plano estratégico para utilizá-las de forma segura e eficaz.

Apesar do alto investimento, um estudo da Amcham Brasil revela que apenas 28% das empresas se consideram realmente prontas para usar a IA de forma estratégica.

Esse cenário indica uma lacuna entre a crescente utilização da Inteligência Artificial e o real domínio das pessoas em aplicá-la de forma significativa em seus cargos.

Para mudarmos esse panorama, precisamos nos perguntar: como as empresas podem ajudar a mudar essa realidade?

Como as lideranças podem garantir que a adoção da IA não se limite à implementação de ferramentas, mas se torne um diferencial estratégico para o negócio?

O primeiro passo é entender que o letramento em IA é mais do que saber operar um programa ou realizar tarefas automatizadas.

As organizações precisam promover uma cultura organizacional que incentive a compreensão crítica da tecnologia e capacite as pessoas colaboradoras a melhorarem seus processos com base em dados.

Para entender melhor este conceito, continue a leitura deste artigo!

O que é letramento em IA?

Letramento em IA é a capacidade de entender e analisar de forma crítica como usar Inteligência Artificial, seja no contexto pessoal ou profissional.

Trata-se de uma competência que vai além de somente saber operar ferramentas: envolve compreender os conceitos básicos de como a IA funciona, seus potenciais e limitações.

A partir dessa explicação, quem é letrado(a) em IA consegue questionar resultados, avaliar riscos e tomar decisões mais conscientes sobre a adoção e a aplicação dessas tecnologias.

E, também, integrá-las de maneira estratégica, segura e alinhada aos objetivos do negócio ou às demandas da sociedade.

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Vale dizer que esse letramento é essencial para que a IA seja usada de forma responsável, transparente e realmente útil.

Isso evita erros éticos, desinformações, entre outros riscos que acompanham a inteligência artificial.

Desmembrando o letramento em IA

Para que o significado de letramento em IA fique ainda mais claro, desmembramos este conceito em quatro pilares essenciais para compreendermos todos os seus aspectos e impactos. Confira a seguir.

1. Compreensão técnica (saber o que é)

Diz respeito a oferecer uma base sólida sobre os conceitos fundamentais de Inteligência Artificial, aprendizado de máquina (machine learning), modelos de linguagem de grande porte (LLMs), dados e algoritmos.

Ou seja, essa deve ser a etapa na qual as pessoas aprendem o que está por trás das tecnologias que utilizam e como elas funcionam.

Leia também: Modelos de Linguagem Pequena (SLMs) — o que é, como funciona e potencial de impacto em diversos setores

2. Aplicação prática (saber usar)

Envolve o treinamento das pessoas para usar as ferramentas de Inteligência Artificial de forma eficaz e responsável, com destaque para a engenharia de prompts — habilidade que permite extrair o máximo potencial dos programas de IA, garantindo que os resultados gerados sejam mais claros e alinhados aos objetivos da pesquisa.

No cenário organizacional, essa etapa busca capacitar as pessoas profissionais a integrar a IA às suas rotinas de maneira produtiva, transformando o conhecimento técnico em soluções concretas para os desafios de cada cargo.

Leia também: Como trabalhar como especialista em inteligência artificial

3. Avaliação crítica (saber analisar)

O foco dessa etapa é o desenvolvimento da capacidade de avaliar criticamente a qualidade, a validade e os vieses das respostas geradas pela IA.

Para isso, é fundamental que as pessoas aprendam a avaliar, questionar e, quando necessário, a recusar informações apresentadas pela IA.

4. Governança ética e de segurança (saber se proteger)

Trata-se de garantir que todas as pessoas compreendam as implicações éticas, legais e de segurança de dados envolvidas no uso da IA.

Esse pilar é essencial para prevenir vazamentos de informações, evitar o uso indevido de dados e promover o uso responsável e seguro da tecnologia, alinhado às normas e boas práticas de proteção de dados.

Leia também: Ética e Inteligência Artificial — desenvolver a tecnologia com consciência

Por que o letramento em Inteligência Artificial é importante para as empresas?

Como vimos, o letramento em IA é importante para as empresas porque amplia a capacidade de seus colaboradores e colaboradoras a pensarem de forma crítica sobre as soluções de IA, e estimula o questionamento e a análise dos resultados gerados pela tecnologia em vez de aceitá-los passivamente.

Assim, esse conceito fortalece competências como tomada de decisão baseada em dados, aumento da confiança na adoção de novas ferramentas e redução de riscos associados a erros ou informações erradas.

Além disso, promove a inovação empresarial, já que profissionais capacitados(as) conseguem identificar oportunidades para melhorar processos, produtos e serviços com o suporte da IA.

O letramento também contribui para a segurança e a conformidade, pois garante que as equipes compreendam as implicações éticas e legais do uso da IA, o que evita práticas que possam comprometer a reputação ou expor a empresa a sanções jurídicas.

Em resumo, o letramento em IA torna as pessoas conscientes de como as ferramentas de Inteligência Artificial funcionam, o que permite um melhor aproveitamento das suas respostas, além da compreensão de que essa tecnologia pode cometer erros e, por isso, precisa de supervisão humana.

Desafios do letramento em IA na educação empresarial

Apesar dos diversos benefícios, o letramento em IA também enfrenta muitos desafios, principalmente dentro das empresas. Abaixo, conheça as principais questões para refletir sobre elas antes de adotar esse tipo de aprendizado no seu negócio.

Diferença geracional nas equipes

Pessoas que não cresceram em um ambiente digital, como a Geração Z, e mulheres, historicamente sub-representadas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, costumam ter menos acesso e participação no campo da IA.

Para reduzir essas desigualdades, é fundamental que as empresas criem programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) que estimulem a participação desses grupos, e garantir que todas as pessoas tenham oportunidades iguais de desenvolver suas habilidades em Inteligência Artificial.

Leia também: Como a IA pode facilitar o trabalho das pessoas colaboradoras dentro de uma empresa

Busca por conhecimento para evitar a obsolescência

Não podemos deixar de considerar que muitas pessoas profissionais buscam cursos e outros tipos de formação em IA pelo receio de ficarem para trás diante das mudanças do mercado.

Inclusive, esse fenômeno chama-se FEBO (Fear of Becoming Obsolete), que podemos traduzir como “o medo de ficar obsoleto(a)”.

Uma pesquisa do Slack revelou que 76% dos(as) profissionais entrevistados(as) sentem urgência em aprimorar suas competências em IA, enquanto 97% das gerências relatam pressão para integrar a tecnologia às operações das empresas.

Esse ambiente de ansiedade pode motivar a busca por conhecimento, mas também gerar iniciativas apressadas e pouco estratégicas que podem trazer resultados negativos, desestimular os times e até trazer prejuízos orçamentários.

Papel crítico da liderança na educação empresarial

O sucesso de qualquer programa de letramento em IA depende do engajamento, patrocínio e do nível de fluência da alta liderança.

Embora seja possível adquirir as ferramentas de IA facilmente, a cultura de aprendizado e a direção estratégica só podem ser construídas a partir do comprometimento dos(as) líderes.

Porém, a lacuna de conhecimento muitas vezes começa nos próprios cargos C-Levels: dados do General Assembly mostram que três em cada cinco vice-presidentes(as) e diretores(as) nos EUA e no Reino Unido nunca passaram por um treinamento formal em IA, e somente 42% dessas lideranças se sentem confiantes para usar ferramentas de IA sem colocar em risco informações sensíveis da empresa.

Isso demonstra que, antes de capacitar as equipes, é essencial preparar quem lidera a organização.

Leia também: IA para lideranças: como a tecnologia pode auxiliar na gestão de pessoas

Falta de investimento em treinamentos especializados

Uma pesquisa da McKinsey revelou que muitas pessoas profissionais estão incorporando a IA em seus fluxos de trabalho mesmo sem terem recebido treinamento formal ou orientações de melhores práticas de suas empresas.

Embora essa iniciativa demonstre proatividade e interesse em melhorar a performance individual, também representa um risco importante: sem o devido preparo, o uso indiscriminado da IA pode expor informações sensíveis da empresa.

Isso é ainda mais evidenciado quando encontramos dados como o apresentado pela Pesquisa Panorama do Treinamento 2024-2025, que aponta que 45% das empresas entrevistadas ainda não utilizam IA em suas ações de Treinamento e Desenvolvimento (T&D).

Essa informação mostra a desconexão entre os investimentos em tecnologia, geralmente geridos pela área de TI, e os investimentos em capacitação, que costumam fazer parte do budget de RH. Ou seja, enquanto as empresas compram ferramentas de IA, as mesmas não preparam suas equipes para utilizá-las de maneira estratégica e segura.

Leia também: Como agentes de IA podem impactar o setor de RH

Como as lideranças podem promover o letramento em IA nas empresas?

As lideranças têm uma atuação decisiva na promoção do letramento em IA dentro das empresas, especialmente diante do cenário descrito pela McKinsey, que apontou que, de acordo com organizações entrevistadas que já adotaram soluções de IA, somente 1% delas acreditam ter alcançado maturidade para lidar com a tecnologia.

O dado evidencia, mais uma vez, que a maior barreira para a escalabilidade da IA não está nas pessoas colaboradoras — que geralmente demonstram disposição para aprender —, mas nas próprias empresas e suas lideranças que, muitas vezes, não direcionam a transformação digital da forma necessária.

Para mudar esse quadro, as lideranças C-Levels, como CTOs, CIOs, CAIOs, entre outros cargos executivos em tecnologia, precisam, em primeiro lugar, compreender que letramento em IA vai muito além de disponibilizar ferramentas para as equipes.

Ele envolve preparar as pessoas sobre como usar Inteligência Artificial criticamente, questionar resultados e avaliá-los de forma ética e estratégica.

Isso exige criar uma cultura organizacional que valorize o aprendizado contínuo, incentive a curiosidade e reconheça a importância do desenvolvimento de habilidades digitais em todos os níveis hierárquicos.

Além disso, é essencial alinhar os orçamentos de tecnologia e capacitação de pessoas para impulsionar, de fato, a transformação digital nas empresas.

Esse processo garante que o investimento em IA não fique restrito à compra de soluções, mas seja acompanhado de programas estruturados de treinamento, como de reskilling e upskilling de colaboradores e colaboradoras.

Outro ponto crucial é que as lideranças devem assumir a responsabilidade de dar o exemplo.

Quando pessoas executivas e gestoras participam ativamente de treinamentos e demonstram interesse em compreender as aplicações da IA, elas inspiram suas equipes a fazerem o mesmo.

Com esses esforços combinados, as empresas poderão fechar a lacuna entre o investimento em IA e a competência de seus talentos, alcançando a maturidade necessária para transformar a tecnologia em vantagem competitiva real.

Para impulsionar essa jornada de aprendizado, sua organização pode contar com o ecossistema Alura + FIAP Para Empresas.

Com formações e treinamentos em tecnologia, como de Inteligência Artificial para diferentes níveis, suas lideranças e equipes terão todo apoio e conhecimento para se tornarem experts em IA com uso responsável e ético.

Para conhecer essa parceria e ter mais informações, entre em contato com nosso time de especialistas!

Leia também: Quais são os principais desafios de cargos de liderança na atualidade?

Francine Ribeiro
Francine Ribeiro

Analista de Conteúdo da Alura +FIAP Para Empresas. Jornalista de formação, com MBA em Comunicação Corporativa pela Universidade Tuiutí do Paraná (UTP) e MBA em Business Strategy e Transformation pela FIAP. Atua com produção de conteúdo para empresas desde 2009 e com marketing digital desde 2016.